terça-feira, 17 de março de 2009

No meio do caminho tinha um Sarney

O Maranhão não é um dos Estados mais dinâmicos e produtivos do país, mas ultimamente tem dado o que falar. Apesar da distintiva produção de alumínio e das maravilhosas dunas paradisíacas, ele é mais presente na mídia por sua propriedade de conseguir comportar os piores índices sociais brasileiros e ser palco de constantes escândalos políticos ao mesmo tempo. Mesmo assim, algumas figuras se destacam dos limites deste Estado pouco promissor para se tornarem notórias Brasil afora.

Uma delas é a nova bixete da ECA, Yasmin, nascida na capital, a ilha de São Luís. Ela me contou algumas lendas de sua cidade de origem, como a da cobra que habita os subterrâneos, ou a da uma mulher fantasma cuja carruagem estrepitante passeia pela ilha à noite. Outra história fantasmagórica, e das mais assustadoras, foi a de um senhor e sua família que dominam a política do Maranhão há 40 anos. Mas dessa eu já sabia, pois o sujeito da lenda calhou de ser justamente a outra figura que se destacou do Estado para se popularizar no país, e agora ocupa, inclusive, a cadeira da presidência do Senado.

Não preciso nem citar o nome desse senhor, nem vou aqui crucificá-lo, pois todas as publicações merecedoras de respeito já vem fazendo exatamente isso. Minha intenção, na verdade, em pontuar essas lendas, é comentar a absurdidade do caso Jackson Lago após uma conversa com um amigo meu maranhense, o Rodrigo.

Para quem não sabe, Lago interrompeu o ciclo de monopólio da família fantasma sobre o governo do Estado há 2 anos, vencendo Roseana Sarney nas urnas. O Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, após denúncias de irregularidades em sua campanha, votou a fator de sua cassação. Os advogados de defesa de Lago entraram com recurso para tentar mantê-lo no cargo. Se derrotados, o poder será entregue de bandeja para a candidata rejeitada pelo voto popular.

Algumas revistas como a CartaCapital dizem serem as provas contra Lago insuficientes. Meu amigo diz que não. Depois de algumas gafes da Carta, prefiro acreditar nele que mora lá e vê São Luís de perto. Mas ouvi, ainda, da boca desse querido amigo: “Você pode não acreditar, mas quero que a Roseana assuma logo”. Poxa! Ele ainda usou um slogan quase malufista: “Os Sarney são corruptos mas fazem”.

Lago, enquanto geriu a prefeitura de São Luís, fez bastante, e por isso foi eleito para governador. Se posteriormente neste cargo nada fez, deve ter sido por encontrar entraves políticos provocados pelos “reis” do Maranhão. Reis estes que depois de 40 anos no trono não tiraram o Estado da categoria de menos desenvolvido.

Não importa se Lago comprou votos, muitos ou poucos, ou participou de um esquema ilícito de abuso de poder econômico para vencer a eleição. Roseana não abusou do poder da família, proprietária da escandalosa maioria dos meios de comunicação, em favor de sua campanha? Não influenciam os Sarney abusivamente o meio jurídico em geral? Então, se é para ter político ruim e corrupto, que pelo menos mudem os políticos.

Se é para brincar de democracia, a primeira regra do jogo é alternância de poder.

Fonte foto: saomateusdomaranhao.blogspot.com

7 commentz:

Luísa Costa disse...

muito bem escrito, mas não concordo!

não acompanho o caso, não concordo com o "rouba, mas faz", acho que o domínio que os sarney têm sobre a comunicação pode, sim, garantir sua permanência no poder (e isso é errado)... mas se houve compra de votos que garantiram a vitória de Lago, não acho certo defendê-lo.

a democracia tem suas (muitas!) falhas e não garante sempre uma votação genuína e consciente... mas é a única coisa que me resta na política pra acreditar.

Priscila Jordão disse...

Bom, acredito que não defender o Lago é coadunar com os Sarney (ha! agora já manjam o coadunar, né?).

Nem sempre agente escolhe entre certo e errado, às vezes tem que escolher entre errado e mais errado ainda (aula do Bucci reloaded).

Além disso, como comentei no post, é possível que as provas contra o Lago não sejam substanciais. Isso a gente só vai saber mais pra frente, acho.

A propósito, pode ser que a tendência de comprar votos diminua muito no futuro por causa de uma lei que já fez destituir 3 governadores (fora o Lago) por causa disso.

Luísa Costa disse...

enquanto não for confirmado, dou o benefício da dúvida. mas a minha escolha entre o errado e o errado (considerando que lago venha, de fato, a estar errado), nesse caso, vai pro categórico: se o cara comprou votos, é ofensa grave à democracia, pois é falha direta.

o domínio dos sarney, se se utiliza de meios indiretos (e tão vis quanto, é bom ressaltar sempre), ainda é o melhor "errado": a campanha política é maciça, mas quem vive no maranhão tem condições de evitar ser iludido (sobretudo se não há melhoras). já evitar corrupção no voto... a maioria da população não consegue, oras.

Priscila Jordão disse...

Ahhhh LU, mas considere todo o histórico Sarney, não só essas eleições! Nem manjo tanto dessa história toda, mas certamente quem acumulou mais faltas na carreira não foi o Lago (e nem teve tempo de governo para isso).

O "abuso de poder econômico" do Lago seria aceitar "convênios" com governadores de municípios que apoiariam sua candidatura. Mas: "A defesa [de Lago] argumentou (...) ter Roseana Sarney obtido um número maior de votos nos 165 municípios premiados pelos convênios" (CartaCapital)

Nesse sentido a "compra de votos" nem seria tão relevante.

Priscila Jordão disse...

Ah, e obrigada por comentar Luu!!

Yuri Gonzaga disse...

Texto bom!

sinceramente, eu acho que votar é sempre escolher entre um ruim e outro pior.
eu falo isso pq na última eleição municipal eu votei pro PT.
tinha candidato do psol, talvez eu me identifique um pouco mais com a linha teórica deles e acredite que eles possam mudar algo se chegarem ao poder.
entao meu voto foi pro atual prefeito de São Carlos, o Barba (PT). Anulei o voto pra vereador.
fiz isso pq os outros candidatos eram piores: um era o Airton Garcia, o candidato a prefeito mais rico do Brasil (duzentos milhões de reais à frente de sr. Paulo Maluf).

mas acho que, no caso do governo do Maranhão, eu, completamente por fora, anularia. Há provas evidentes demais que são candidatos indignos (segundo este Experimenta(l)).

concordo com o último parágrafo, qdo vc diz que eles poderiam ser mais espertos :)

up the irons

Priscila Jordão disse...

ah, pensei bem e devia ter outra eleição