sexta-feira, 27 de março de 2009

Kindle, uma nova plataforma?

Muito se ouve e fala sobre o futuro do jornalismo, mas ninguém quer arriscar nenhum tipo de previsão a respeito, como se os próximos anos fossem uma nebulosa insondável que todos temem enfrentar. 

Prevendo a extinção dos jornais impressos argumenta-se com:

1. A alta do preço do papel
2. O alto custo de distribuição
3. O entusiasmo dos jovens com o conteúdo digital
4. A natureza gratuita da internet

Contra a visão apocalíptica já se apontou:

1. A impossibilidade da internet de financiar a produção de conteúdos mais completos
2. O caráter mais analítico e interpretativo do jornal impresso
3. A credibilidade única dos impressos
4. A necessidade "fetichista" dos leitores de ter o papel em suas mãos

É impressionante que nos argumentos mais comuns do debate não conste o desenvolvimento de novas tecnologias que permitam conciliar, senão todos, a maioria dos paradoxos envolvidos. 
Um caso interessante é o Kindle, um dispositivo eletrônico de leitura disponível nos Estados Unidos e alguns países da Europa. 

Além de poder ser sincronizado para conter dezenas de livros, o usuário do Kindle baixa diariamente via wireless jornais como o The New York Times e o The Washington Post, revistas como a TIME e a Newsweek e até mesmo blogs. Por esse equipamento, pode-se ter acesso ao conteúdo denso e analítico dos jornais em um meio portátil e de forma imaterial (que, portanto, não gasta papel).  O contato físico com o Kindle também alivia em partes o "fetichismo" dos leitores pelos jornais.

Por cada download feito cobra-se um preço fixo, determinado antes da compra, como um iTunes da leitura, solucionando o problema da distribuição e a complicação da cobrança por conteúdo digital. Como a telefonia celular, o Kindle funciona pela tecnologia 3G, não dependendo de conexão com a internet. O leitor pode assim baixar arquivos de qualquer lugar com cobertura wireless.

Mas na equação que alia o Kindle à possibilidade de veicular a produção jornalística ainda falta um termo: a publicidade. Se um Kindle puder, no futuro, em um display de tela otimizado, mostrar uma página de jornal/revista da forma como é impressa, e não apenas o texto e figuras em baixa resolução, a publicidade pode ser mostrada também. 

Não necessariamente esta marca de aparelho pode vir a fazer sucesso, mas podem surgir outras melhores. Enfim, o interessante é uma plataforma que consiga aliar o conteúdo da internet com o produto elaborado dos impressos digitalizado e comercializado a preços razoáveis. Se a essência dos jornais é só papel, eles tem uma boa chance de desaparecer. Mas se eles são realmente diferentes da internet pelo seu conteúdo denso e analítico, nenhuma redação vai deixar de existir por causa da digitalização. 


8 commentz:

Yuri Gonzaga disse...

Priscila, amei o texto.
Adoro gadgets! Muito tenho lido sobre o Kindle, mas não é uma novidade! Só está melhorado a ponto de se conectar à internet. Antes vc tinha de transferir por usb pdfs, docs ou txts pra lê-los em leitores, por exemplo, da Sony, que nunca emplacaram. Agora parece que a coisa vai andar um pouquinho. Já tem uma versão japonesa a cores que parece boa.
As telas vêm em LCD ou OLED, iuhul!
Parabéns pelo texto, que tá tão agradável quanto um DigitalDrops e político como um Wired., foi uma surpresa agradável ver que pessoas gostam de tecnologia aqui.

Priscila Jordão disse...

uau, por isso que internet é legal! vc escreve um texto e um tempinho depois já vem algm contribuir com conteúdo + atualizado q o seu!! valeu yuri, mto louco esse modelo japonês!

Amanda Previdelli disse...

ai, eu quero um desses!!!
me dá, me dá, me dá?!

Amanda Previdelli disse...

olha:
http://applemania.info/?p=3332

Priscila Jordão disse...

esse apple netbook seria quase perfeito porque parece ter a tela bem grande e boa resolução. mas o ideal seria poder baixar o jornal diário num pdf (que nem o do metro), não ler só notícias da internet.
aí vai das grandes empresas jornalísticas disponibilizarem o conteúdo ou não. vcs acham que rola?
e ter net + jornal num só aparelho portátil seria amazing!! *-*

Daniele Melo disse...

Uau! Gostei do texto.

Acho que essa idéia de que o jornal impresso vai acabar é um tanto apocalíptica, como você mesma colocou. Nenhuma mídia nova substitui as antigas (muita gente que eu conheço só acompanha notícia pelo rádio até hoje), mas, também como você disse, são necessárias adaptações. O impresso tá perdendo na proposta de conteúdo que apresenta - proposta que em nada se diferencia da proposta das outras mídias. Acho que essa do jornal ser mais profundo, mais completo, é balela e tende a diminuir cada vez mais. O impresso não tá sabendo o que fazer pra resolver, pra se diferenciar. Cadê a inovação na diagramação, no formato, no conteúdo? Quero grandes reportagens, grandes personagens, fotografias bonitas!!!

O jornal impresso e sua inadequação me cansam. Prontofalei.

Murilo Azevedo disse...

Nossa, eu geralmente odeio texto de tecnologia, adorei o seu. Eu sempre fico boiando em termos "x"; acho que você conseguiu fugir deles sem tornar o conteúdo babaca pra quem entende da coisa.

Luísa Costa disse...

Pri, achei o texto muito bem escrito!

Quanto ao Kindle... Sou descrente. A impressão que me dá é de mais um "trambolho" (com o perdão da palavra), um bocado menor que um laptop (mas com utilidade bem limitada), que ainda não tiraria a frustração que tenho ao ler reportagens mais elaboradas ou diagramações online. Sobre o fetichismo que o Kindle tentaria saciar e sua portabilidade , imagino que são ilusões. Ainda não proporcionaria aquela visão do jornal padrão, os soslaios que nos leva a ler coisas diferentes do que costumamos buscar. Até a idéia de uma jornal tablóide não me agrada tanto por reduzir o campo de visão. Claro, essa é minha opinião, mas me pergunto se isso não faz parte do "fetiche" também.