quarta-feira, 4 de março de 2009

Por que Diogo Mainardi é leitura de ônibus

Não somente o estudante de jornalismo ou o leitor ávido, mas também o leitor ocasional já deve ter reparado na tendência dos veículos de mídia em vender sua "marca". Não vou discutir aqui a história dos meios de comunicação se transformarem em produtos, da mídia ser vendida nem nada disso. Esses problemas são muito sérios, com certeza. Mas se o problema fosse só da mídia, menos mal. As coisas pioram, de fato, quando o próprio leitor coaduna com a situação. 

Hoje no ônibus reparei em uma senhora folheando a Veja. Pude ler de longe o nome dos articulistas, mas não enxergava nenhum título ou manchete. Para mim, uma diagramação do tipo põe em evidência o Diogo Mainardi ou o Reinaldo Azevedo, as "marcas" da revista, e não a matéria ou a discussão. 

A respeito desses personagens em específico, acho que todos concordam que eles já se tornaram caricatos. O interesse do leitor de fato não está no tema dos escritos, mas do tratamento radical, inflexível e exagerado dado a eles por esses colunistas de extrema direita. Não há mais reflexão sobre tema nenhum, mas a repetição do mesmo tipo de argumento que caracteriza as duas figuras citadas como "marcas".  Semanalmente, o leitor não se depara com nenhuma novidade, mas apenas consome uma opinião, provavelmente de seu agrado - para rir do Mainardi ou satisfazer-se da sua verborragia, nunca surpreendente.

Eu pergunto: o leitor do Diogo Mainardi realmente concorda com seus postulados ou a eles aderiu pela força da repetição? De certa forma, é confortante para o leitor sempre saber o que vai ler. É como assistir a novela cujo fim já se imagina. O ser humano sente satisfação em prever o mundo. Sua razão se envaidece. Mas na verdade não se prevê nada, se relembra o moralismo do artigo da semana passada. 

De qualquer forma, a compra de uma "marca" é preguiça de pensar, e a Veja é uma revista para preguiçosos, que só lêem do ônibus até em casa. Se o ônibus chacoalha e a pessoa pula três parágrafos não faz diferença nenhuma. Ela já sabe mesmo qual é o argumento.

4 commentz:

Amanda Previdelli disse...

antes de ler o texto, preciso comentar: muito Priscila esse título! hahaha

(adorei)

Luísa Costa disse...

parada no texto um: pri diz 'coaduna'! acho chique

parada dois: QUEIMEM A VEJA!! ou não seria esse mais um radicalismo repetido? será?

parada três: "Se o ônibus chacoalha e a pessoa pula três parágrafos não faz diferença nenhuma." cool!

parada final: o resto do mainardi fica pra próxima.

Yuri Gonzaga disse...

Pri, concordo plenamente com seu terceiro parágrafo! Nunca tinha pensado desse jeito, adorei.

Yuri Gonzaga disse...

"- Prazer, coadunar"
nunca tinha ouvido falar o.o
ahahuaha

coadunar
co.a.du.nar
(lat coadunare) vtd 1 Ajuntar em um, reunir para formar um todo: Na ausência de um professor, coadunamos duas classes. 2 vtd e vti Incorporar, reunir: Ela tem o dom de coadunar a virtude com a bondade. vtd e vpr 3 Combinar(-se), conformar(-se), harmonizar(-se): Coadunar opiniões. Tinha o dom de coadunar o estilo com a beleza das idéias. Esses termos não se coadunam.
Fonte: Michaelis